segunda-feira, 4 de maio de 2009

ENCHENTES NO CEARÁ

Fonte:Diário do Nordeste

12 municípios pedem decreto de emergência

A cheia do Rio Acaraú já desabrigou mais de 400 famílias em Sobral. Em algumas áreas, as águas subiram quase dois metros, provocando calamidade no município (Foto: Wellington Macedo) Soldados do Corpo de Bombeiros fazem fiscalização em áreas inundadas para resgatar famílias atingidas Apesar dos prejuízos, as chuvas fizeram com que os açudes alcançassem capacidade recorde em 15 anos Fortaleza. Por um lado, perspectiva de reservatórios cheios, mas, por outro, danos causados pela força das águas e pela falta de estrutura para atender aos municípios atingidos pela chuva. Segundo a assessora técnica da Defesa Civil do Estado, Ioneide Araújo, 12 municípios estão em fase de avaliação de danos para uma futura decretação de estado de emergência: Acaraú, Bela Cruz, Canindé, Cascavel, Cedro, Icapuí, Itaiçaba, Itarema, Marco, Quixeramobim, Sobral e Uruburetama. Até o momento, apenas o município de Itapajé pôde decretar situação de emergência. De acordo com o boletim divulgado, ontem de manhã, pela Defesa Civil, 33 municípios apresentam problemas em decorrência das enchentes. Os municípios mais atingidos foram Acaraú (com 1.713,9 mm de chuva até o momento), Itarema (1.674 mm), Ubajara (1.588,5 mm), Cascavel (1.420 mm) e Granja (1.238,8 mm). Ainda segundo o boletim, 2.877 pessoas encontram-se desabrigadas e outras 5.930, desalojadas em todo o Estado. “Fizemos um planejamento em 2008 e agora estamos conseguindo atender toda a demanda. O problema é que são poucos os municípios em que a Coordenadorias Municipais de Defesa Civil são realmente atuantes, apesar delas existirem oficialmente em quase todos eles”, aponta o secretário executivo adjunto do órgão, coronel Leandro Nogueira. A coordenadora técnica da Associação dos Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece), Elaine Paiva, reconhece que os municípios esperam pela ação do Estado diante dos problemas decorridos da chuva e que eles precisam estruturar a Defesa Civil nesses locais. “Estamos organizando uma oficina para prefeitos e secretários no início de maio para que eles se preparem melhor”, conta. Recorde Com as chuvas de 2009, a quantidade de água acumulada nos açudes do Estado atingiu o maior nível de reserva desde que a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) passou a monitorar as bacias cearenses, há 15 anos. Até o fechamento desta edição, os reservatórios haviam atingido a marca de 15,862 bilhões de metros cúbicos, o que corresponde a 88,97% da capacidade total. Ainda de acordo com a Assessoria de Comunicação da Cogerh, até o fim da manhã de ontem, outros três açudes sangraram. Os reservatórios Trici (localizado em Tauá), Premuoca (Uruoca) e Jenipapeiro (Deputado Irapuã Pinheiro) elevaram para 86 o número de reservatórios com 100% da capacidade atingida. Transtornos A cidade de Icó, onde já choveu 811,3mm nesta quadra chuvosa, voltou a sofrer com a intensidade das chuvas dos últimos três dias. Cerca de 200 famílias do bairro BNB acordaram, ontem, com água no interior das residências. Uma lagoa transbordou e a água atingiu as casas em até 40 cm de altura, obrigando os moradores a subirem os móveis e utensílios domésticos. “Foi um dia de sufoco”, disse a dona-de-casa Francisca Custódio. Os moradores reclamam da construção de uma creche no bairro que aterrou parte da lagoa e impediu o escoamento da água. “Antes quando chovia forte não havia esse problema”, contou o comerciante Francisco Pereira. Técnicos da Secretaria de Infra-Estrutura da Prefeitura de Icó utilizaram uma máquina retro-escavadeira para abrir parte do dique de proteção contra cheias do Rio Salgado. Os moradores permanecem apreensivos, temendo novas cheias. “Se o canal encher, a água vai retornar e pode inundar as casas novamente”, observou o aposentado Luís Ribeiro. RIO ACARAÚ Cheia desabriga 420 famílias Sobral. As cheias do Rio Acaraú, que corta este município, continuam desabrigando famílias em seu leito. Ontem pela manhã, os números chegaram a 420 famílias desabrigadas, o que representa cerca de 1.700 pessoas, de acordo com a Defesa Civil do Município. Desse total, 380 estão somente na sede, ficando as demais famílias situadas em distritos. Os bairros mais atingido são: Tamarindo, Santa Casa, Pintor Lemos e Vila Recanto, onde a assistência ainda é deficitária, segundo os moradores. Os 18 abrigos disponibilizados pela Prefeitura estão todos ocupados e alguns deles não têm mais como receber desabrigados. A cena voltou a se repetir cinco dias depois que esses mesmo moradores foram obrigados a deixar suas casas devido ao nível do rio ter atingido seis metros de altura, atingindo 51 famílias no município. “Foi decretada situação de emergência, que deverá permanecer até que o problema se inverta”, disse o prefeito de Sobral, Leônidas Cristino. (Foto: Wellington Macedo) Áreas isoladas Ontem, um helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) trouxe o sub-comandante do Corpo de Bombeiros da Capital, coronel Joaquim Neto, ao município. Juntamente com o comandante dos Bombeiros em Sobral, capitão Roberto Morais, e o prefeito Leônidas Cristino, eles sobrevoaram por 40 minutos as áreas atingidas pelas chuvas na sede e zona rural, e até o Açude Jaibaras. A partir desta operação, o prefeito decidiu enviar, por helicóptero, uma equipe médica para o distrito de Bonfim, que está totalmente isolado pelas águas das chuvas. A situação dos moradores se complicou na tarde de domingo, quando o nível do Rio Acaraú chegou a 6,49 metros e, por todo dia de ontem, permaneceu inalterado. Em localidades como Bonfim, Vila Formosa, Vila dos Anjos, Marrecas e Patos, dezenas da famílias permaneciam ilhadas. Ontem o funcionário da Câmara Municipal, Gilmar Bastos, informava que os moradores do distrito de Bonfim, distante 7 km da sede de Sobral, estavam sem água para beber. “Essa comunidade está ilhada há cinco dias e estão sem receber atendimento médico. E já começa a faltar água para o consumo humano”, disse Bastos em uma emissora de rádio local. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sobral está recomendando a população a poupar água. Em nota enviada à imprensa, o órgão informa que todo o sistema de bombeamento está comprometido, o que impede o tratamento da água. Em bairros como Sinhá Sabóia, Cohab 1 e 2, as residências já estão sendo abastecidas com carros-pipas. O prefeito está solicitando a ajuda da população que não foi atingida pelas águas. “Nós estamos precisando de leite em pó, leite longa vida, água potável, além de roupas e alimentos. Estamos recebendo ajuda substancial da Defesa Civil do Estado, mas esses produtos são essenciais para ajudar as famílias desabrigadas no nosso município”, enfatizou Leônidas Cristino, ao mesmo tempo em que tentava tranqüilizar a população. Ele pede cautela aos desabrigados, para que não retornem às casas assim que as águas recuarem. Apesar de muitas famílias terem sido retiradas, outras resistem em permanecer, temendo furto de objetos que não puderam ser transportados. “A Polícia tem atuado de forma vigilante para evitar que essas pessoas se apoderem do que não lhes pertence”, disse o tenente-coronel Gilvandro Oliveira. Nos abrigos improvisados, a Prefeitura disponibilizou agentes da Guarda Civil para evitar a entrada de pessoas que não estão alojadas nos locais. Mais informações: Defesa Civil do Estado (85) 3101.4600 Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) (85) 3257.8710 karoline viana/ HONÓRIO BABROSA Repórteres WILSON GOMES Colaborador --------------------------------------------------------------------------------