sábado, 7 de novembro de 2009

Delegada afastada diz que é vítima de ´trama´

Alexandra Medeiros diz que objetivo do chefe da Polícia Civil foi tirá-la das investigações sobre a morte de empresário

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Denunciou perseguição: Alexandra Medeiros assegura que sua vida e a de sua família agora correm perigo Foto: Miguel Portela

A delegada Alexandra Medeiros afirmou, em entrevista coletiva na manhã de ontem, que o superintendente da Polícia Civil, delegado Luiz Carlos Dantas, está por trás do que ela denominou de "trama", com relação as acusações de que presos teriam sido torturados por ela, seu marido, o inspetor Fernando Cavalcante e seu cunhado, o também delegado Francisco Cavalcante. Os três foram afastados das funções pelo secretário da Segurança Pública e defesa Social, delegado federal Roberto Monteiro.

Segundo a delegada, o objetivo de Dantas foi tirá-la das investigações sobre a morte do empresário Cláudio Augusto Bezerra Kmentt, do ramo de lagostas (assassinado no dia 217 de dezembro de 2004). Passados quase cinco anos do crime, a Polícia Judiciária cearense ainda não apontou os criminosos.

Afastar

A delegada disse ainda que, não torturou ninguém e que o Superintendente precisa explicar quem está por trás das supostas torturas. "Era para ele ter sido afastado também, porque paira no ar a dúvida de que, se ele não torturou, está envolvido com as torturas, posteriores à prisão", afirmou Alexandra.

Alexandra disse temer por sua vida e sua família. "Estou correndo risco total, risco de vida. Tiraram minhas armas, minha carteira, tentaram me matar, está faltando o que?", disse. Para Alexandra, tudo ocorreu porque membros da quadrilha, presa pelo delegado Cavalcante, têm ligação direta com pessoas que estão sendo investigadas no caso do lagosteiro. "A quadrilha do Otacílio (Otacílio Siqueira Júnior, o "Júnior Paulista") e do Carvalho já havia sido presa em outras ocasiões, com elementos que estão sendo investigados, acusados de participação no caso do lagosteiro".

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Forte escolta: o Diário do Nordeste flagrou, com exclusividade, o momento em que o assaltante era levado para o hospital por policiais da Divisão Anti-Sequestro (DAS) Foto: Alex Costa

Segundo a delegada, os motivos da "armação da tortura" estão claros. "Os procedimentos foram retirados da nossa mão. Em uma fase muito crítica, onde muito ia ser revelado. Quero deixar bem claro aqui. O que acontecer com a minha família ou com qualquer um de nós aqui, eu responsabilizo o Dantas", avisou.

Em pouco mais de 20 minutos de conversa com os jornalistas, na sede do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil (Sindepol), Alexandra acusou o superintendente de intimidação e de ter feitos ameaças, quando ela assumiu as investigações do caso lagosteiro. De acordo com a delegada, existia um acordo entre ela o superintendente de que não investigaria o caso por haver saído, recentemente, de casos complicados e estressantes, como a investigação sobre um grupo de extermínio envolvendo policiais militares.

Contudo, revela a delegada, no fim de julho deste ano, o delegado Ronaldo Melo Bastos chegou na Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (DADT) com pastas e documentos relativos a investigação do caso lagosteiro. Ele, então, assumiria o comando das investigações e ela iria auxiliá-lo.

Durante a entrevista, a delegada apresentou o vigia que teria testemunhado o atentado contra ela. O vigia (de rosto encoberto) disse que o delegado Dantas lhe orientou a nada falar sobre o caso.
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Testemunha do atentado: o vigia diz que foi orientado por Dantas para nada falar sobre o atentado contra a delegada


COBERTURA
Preso que revelou tortura é internado

Na tarde de ontem, o assaltante Gilson Lopes Justino, o "Meia-Luz", voltou a se sentir mal e, hoje, fará uma cirurgia

O assaltante Gilson Lopes Justino, o "Meia-Luz", um dos quatro presos que denunciaram ter sido torturados pela Polícia, está internado, desde a tarde de ontem, no Instituto Doutor José Frota (Centro). Ele voltou a passar mal e a se queixar de fortes dores no corpo. Por volta das 13 horas, o acusado foi levado, em uma viatura da Delegacia de Narcóticos (Denarc), ao IJF onde submeteu-se a vários exames, entre eles, de Raio X.

Cerca de uma hora depois, retornou, na mesma viatura, para a Superintendência da Polícia Civil, com a recomendação médica de que fosse removido para o Hospital de Messejana.

Às 14h30, uma equipe da Divisão Anti-Sequestro (DAS) escoltou o preso até o Hospital de Messejana, mas houve nova transferência. Desta vez, de volta ao IJF-Centro, onde ele ficou, definitivamente, internado.

O assaltante, que disse ter sido torturado para incriminar o superintendente da Polícia Civil no suposto atentado sofrido pela delegada Alexandra Medeiros, no dia 16 de agosto último, já havia passado pelo IJF-Centro na tarde de sábado passado.

No segundo exame de corpo de delito no qual o acusado foi submetido na Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), os legistas constataram lesões compatíveis com tortura, contrariando o laudo do primeiro exame, feito no dia 30. "Meia-Luz" deverá ser submetido a uma cirurgia, ainda hoje, naquele hospital e passar por uma drenagem de pulmão, segundo informações da equipe médica.

Mulher

Ontem à tarde, a mulher do assaltante revelou ao Diário do Nordeste que, somente soube da prisão dele, na manhã de sábado passado, quando ligaram para ela da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas (DRFVC). "Me disseram que ele estava preso também doente, que estava com dor e febre. Mandaram eu levar lanche e remédio pra ele, mas não deixaram eu falar com ele", disse a mulher de Gilson, que pediu para não ser identificada. Ontem, ela acompanhou o marido até o IJF.
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Sávio Amorim relatou os momentos em que acompanhou o flagrante lavrado contra os acusados de assalto Foto: Miguel Portela


INQUÉRITO
Promotor é ouvido nas investigações

O promotor Domingos Sávio Amorim, representante do Ministério Público junto à Nona Vara Criminal, prestou depoimento, na manhã de ontem, no inquérito que apura a denúncia de tortura contra os presos. O depoimento ocorreu à portas fechadas. Ele informou apenas que foi chamado a depor por ter acompanhado o auto de prisão em flagrante dos bandidos, pelo roubo de uma caminhonete.

As investigações em torno do caso deverão se estender por toda a próxima semana. O delegado Rodrigues Júnior tem 30 dias para concluir a apuração. Até a expiração do prazo, ele deverá interrogar também os delegados Francisco Cavalcante e Alexandra Medeiros, além do inspetor Fernando Cavalcante.

Outros policiais que participaram da prisão da quadrilha já estão sendo interrogados.

NOTA OFICIAL
Luiz Dantas informa que vai processar por calúnia

Em nota oficial distribuída à Imprensa, no fim da tarde de ontem, o superintendente da Polícia Civil do Estado do Ceará, delegado Luiz Carlos Dantas, informou que deverá processar os delegados Francisco Cavalcante e Alexandra Medeiros pelas declarações na Imprensa, em que o acusam de envolvimento com o crime organizado e de ter montado uma "trama" para afastar Alexandra das investigações sobre a morte do lagosteiro Cláudio Kmentt.

"Já estão sendo tomadas as medidas judiciais cabíveis relacionadas às acusações dirigidas à pessoa do superintendente da Polícia Civil", diz a nota. NO mesmo documento, Dantas informa que o afastamento dos servidores envolvidos nas investigações de tortura, "foram medidas administrativas tomadas pelo titular da SSPDS, com base no Estatuto de Polícia Civil de Carreira".

Tortura

Em outro trecho da nota oficial, o superintendente foi enfático: "em nenhum momento, acusou-se policiais de tortura ou qualquer outra transgressão, fato dito e repetido pela Imprensa. Apenas, foram adotadas as medidas pertinentes ao caso."

O superintendente disse ainda que o inquérito em andamento está sendo acompanhado pelo Ministério Publico Estadual, Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil e pela Corregedoria Geral dos Órgãos da Segurança Pública.

O superintendente tem repetido que só poderá falar acerca do caso após a conclusão das investigações que estão sendo presididas pelo delegado Rodrigues Júnior e pelo promotor de Justiça Francisco André Karbage Nogueira. No inquérito já foram ouvidos os presos.

EMERSON RODRIGUES REPÓRTER

DN

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