Portas abertas: em muitos casos, os pacientes chegam às emergências sem referência (Foto: Gustavo Pellizon)
Assunto é tema de congresso, que propõe a regulamentação da especialidade de emergencista no País.
Cerca de 17% dos pacientes que chegam ao Instituto Dr. José Frota (IJF), principal hospital de emergência do Ceará, já estão mortos. Isso acontece devido a um fenômeno comum em todo o País, que são as emergências "portas abertas", na qual os pacientes chegam sem referência ou contra-referência de outra unidade de saúde e também sem o primeiro atendimento. O assunto está em discussão no II Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência, que foi aberto, ontem, no Centro de Convenções de Fortaleza.
Conforme o diretor da Emergência do IJF, Rommel Araújo, o percentual de pacientes que chegam mortos na unidade é muito alto e acontece porque há uma demanda espontânea de pacientes nas emergências, o que não deveria acontecer.
Apesar de existirem, segundo Araújo, as centrais de regulação não funcionam de fato. "O paciente que vem do Interior, como de outro hospital secundário, chega na emergência espontaneamente, sem ser regulado. A regulação é importante porque os profissionais que estão na emergência podem planejar o atendimento e, pelo menos, antecipar algum suporte", explica o médico.
Humanizar
A organização desse sistema de referência e contra-referência, segundo Rommel Araújo, além de organizar o atendimento, traria também mais humanização para as emergências dos hospitais.
No ritmo frenético das emergências, pequenas frações de tempo podem ser decisivas para o paciente grave. O presidente da Sociedade Cearense de Medicina de Urgência (Socemu) e também do congresso, Frederico Arnaud, destacou que um segundo pode fazer diferença entre a vida e a morte do paciente. "Um primeiro atendimento de qualidade define o prognóstico do paciente e a sua evolução. Quando existe falha no primeiro atendimento, o paciente segue ruim, sem melhoras".
Uma das lutas do congresso, conforme Frederico Arnaud, é a regulamentação da especialidade de emergencista no País, que ainda não existe. "O que estamos tentando hoje, os Estados Unidos fizeram em 1974.
Após a criação da especialidade lá, o índice de morte baixou de 5% para 3% nas emergências", disse, informando que somente o Rio Grande do Sul e o Ceará possuem residência médica em medicina de urgência.
Conforme ele, a qualificação do profissional para realizar esse primeiro atendimento é essencial.
O que acontece hoje na maioria dos hospitais, de acordo com Arnaud, é que os médicos, com poucas exceções, têm as emergências somente como uma "passagem".
"São médicos recém-formados, que ainda não têm maturidade nem treinamento para lidar com o paciente grave", ressalta o presidente do congresso.
A regulamentação da especialidade, para o Frederico Arnaud, vai mudar o perfil das emergências do Brasil, na medida em que proporcionará ao médico todo o conhecimento necessário para atender com qualidade o paciente na urgência.
Fonte: DN - Paola Vasconcelos - Repórter
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