segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CEARENSE MORTA EM SP QUERIA CONHECER O IRMÃO GÊMEO EM CRATEÚS

Conheça a história de Ana Cristina de Macedo. Ela tinha 17 anos, uma filha e um sonho. Ana Cristina morava na comunidade de Heliópolis, São Paulo.

São Paulo foi palco de uma violenta batalha esta semana. Nove veículos incendiados, 21 pessoas detidas, um policial gravemente ferido. Era um protesto contra a morte de Ana Cristina de Macedo, jovem de 17 anos vítima de bala perdida na comunidade de Heliópolis.

”Estou muito revoltada, muito revoltada, muito. Eu não me conformo. Eu não durmo, eu não me alimento,”conta a mãe de Ana Cristina, Francisca Vera Lúcia de Macedo.

Extremamente abatida, a mãe de Ana conversou com o Fantástico, mas não teve forças para levantar o rosto durante toda a entrevista.

“Eu quero justiça,“, diz a mãe Francisca Vera Lúcia.

Vera lembra da filha com carinho.

“Amiga, companheira de todas as horas. Uma ótima filha”, diz a mãe.

Ana Cristina nasceu em Crateús, no sertão do Ceará, e aos 3 anos de idade foi para São Paulo com a mãe.

“Ela era muito calada, tímida”.

Trabalhava nesta papelaria, mas três dias antes de morrer largou o emprego. Queria se dedicar à filha de um 1 e 8 meses”.

“Era que nem pão com manteiga. Não separava da menina por nada”, diz o namorado de Ana Cristina, Bruno de Sousa.

Veja no vídeo a casa de Ana Cristina. Nos últimos dois anos, ela dividiu um abrigo provisório da favela de Heliópolis com a família - a mãe e a filhinha. As três costumavam dormir juntas em uma cama e sonhavam um dia conseguir um apartamento um pouquinho maior, mais confortável, dentro da comunidade.

Na noite de segunda-feira passada, Ana voltava da escola estadual onde cursava o supletivo.

Na altura de um beco, foi surpreendida por um tiroteio. Guardas civis de São Caetano do Sul, cidade vizinha, perseguiam bandidos que tinham roubado um carro. Atingida no pescoço, Ana morreu abraçada ao caderno.

Uma testemunha afirma que os bandidos não revidaram. Um guarda civil teria disparado o tiro fatal.

“Quando ele viu que a menina estava no chão, ele entrou em desespero, até, e começou a tremer, que ele veio na minha direção com a arma tremendo”, diz a testemunha.

O socorro também teria demorado.

“Ficaram só olhando. Ficou um tempo, mais ou menos uns seis, sete minutos, ela sangrando lá. Aí eles jogaram ela dentro da viatura como se fosse um lixo, como se fosse um cachorro, e saíram, foram embora”, diz outra testemunha.

Durante dois dias, uma explosão de violência e indignação tomou conta da maior favela de São Paulo.

A tropa de choque da Polícia Militar tentou conter o tumulto com bombas de gás e balas de borracha. Segundo a PM, a onda de vandalismo teria sido incitada por traficantes, em troca de cestas básicas.

O corpo de Ana foi enterrado na quarta-feira.

“O objetivo dela era ser juíza. Por que? Você olha em volta. Olha em volta e vê o que faz uma pessoa de 17 anos querer ser juíza?”, questiona o namorado Bruno de Sousa.

A secretaria de Segurança de São Caetano disse em nota que o caso está sendo investigado. Os guardas estão afastados e são suspeitos de homicídio.

O laudo do Instituto de Criminalística sai em 30 dias. Até agora, dois dos três guardas envolvidos prestaram depoimento. Disseram ter dado dez tiros e admitiram que pode ter partido da arma de um deles a bala que matou a jovem.

A família vive ainda um dilema doloroso. Como contar para a filha de Ana o que aconteceu?

“A gente vai ter que fazer meio que um conto de fadas. A mãe dela é um anjo que veio à Terra e Deus resolveu que ela deveria voltar”, diz a sogra de Ana Cristina, Marilene de Sousa.

Ana Cristina deixou também um irmão gêmeo no Ceará.

Estavam separados havia 14 anos.

“Ela sonhava em encontrar o irmão”, conta a mãe da vítima.

“Planos, nós tínhamos muitos. Crescer juntos, criar nossa filha. Nós íamos nos casar agora no final do ano. Acabei de construir a nossa casa agora, estava toda mobiliada. Só esperando por ela”, conta o namorado de Ana Cristina Bruno de Sousa.

“Eu espero apenas justiça. Para isso não continuar assim, não é? Essa não é a primeira vez, e nem se deixar tudo por isso mesmo, também não vai ser a última, não é?”, conta a avó de Bruno, Terezinha de Sousa.

Fonte: Fantastico.globo.com

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