Uma mulher simples de apenas 19 anos de idade resiste "até a morte" contra a idéia de sacrificar um dos seus filhos para salvar o outro. O caso dramático está sendo vivido pela dona de casa Maria Torres de Souza, residente no Sítio Pimenteira, município de Santana do Cariri. No dia 15 de junho, ela deu luz a dois irmãos siameses, ou xifópagos, na Maternidade César Cals, situada em Fortaleza.
As duas crianças nasceram ligadas ente si por uma membrana na altura do tórax. Só tem um fígado e os dois corações estão colados. Uma delas, apresenta fissura labiopalatal - lábio leporino ou boca de lobo, uma abertura na região do lábio ou palato, ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas, que ocorre entre a quarta e a décima semana de gestação.
A equipe médica que fez o parto sugeriu que a parturiente fosse para São Paulo a fim de submeter a uma cirurgia de separação dos corpos com o risco de sacrificar a vida de um dos gêmeos. Maria Torres, também mãe de uma menina de 4 anos, não concorda com a idéia. Ela pediu, "pelo amor de Deus", que os médicos a liberasse. "Eu quero criar meus filhos do jeito que eles nasceram", justifica. Depois de 28 dias de internamento, ela voltou para casa.
Ela diz que entregou a vida dos filhos à Nossa Senhora do Bom Parto. O primeiro "milagre", segundo afirma, já aconteceu. Soube que os gêmeos eram xifópagos no quarto mês de gestação. Maria conta que médicos que a acompanharam advertiram que as crianças morreriam depois do parto. "Como elas estão vivas e sadias, foi um milagre", acredita ela.
Três meses depois do nascimento dos irmãos siameses, o amor aos filhos aumentou. Agora, ela conta com a solidariedade do marido Cícero Antônio de Oliveira Neto e da família, que não querem nem ouvir falar na separação dos dois irmãos, que receberam o nome de Damião e Gabriel, em razão de uma promessa feita por sua sogra Aureni Oliveira. Antes, a mãe tinha escolhido os nomes de Renan e Riquel. Mas diante da promessa da sogra, mudou os nomes dos dois filhos.
Na pequena casa de taipa, o casal acredita que cabe a Deus o destino dos seus filhos. O pai, Cícero, vive do trabalho na roça. Ganha R$ 10,00 por um dia de serviço na agricultura. Nesta época do ano, é difícil encontrar trabalho. Cícero está pensando em viajar para São Paulo, a procura de emprego. "Aqui, não dá para eu criar meus filhos", lamenta ele.
O seu desejo é compartilhado pela família. A mulher reclama da falta de apoio da Prefeitura Municipal de Santana do Cariri. "A gente está se mantendo graças a ajuda das pessoas que nos visitam", afirma.
Providência divina
Mesmo diante das dificuldades financeiras, ela acredita na providência divina e lembra a história dos siameses americanos que vivem juntos até hoje, os gêmeos Ronnie e Donnie Galyon, os irmãos siameses mais velhos do mundo. Têm 57 anos e surpreenderam os médicos, já que ultrapassaram a estimativa de vida prevista.
O médico José Flávio Vieira explica que a separação cirúrgica tem suscitado grandes debates entre médicos e teólogos de diversas religiões, tendo em vista os problemas éticos implicados em grande número de casos. Ele acrescenta que uma alta proporção desses gêmeos apresenta um coração muito complexo (62%) ou apenas duplicação dos ventrículos (13%).
Em conseqüência disso, segundo José Flávio, somente nos casos em que há dois corações independentes (25%), uma intervenção cirúrgica para separar os toracópagos pode dar esperança de sobrevida aos dois elementos do par. "Nos casos restantes, obrigatoriamente, há a morte de um desses gêmeos para que o outro eventualmente, se salve", complementa.
FIQUE POR DENTRO
Caso é raro e favorece mais nascimento de meninas
O nascimento de irmãos siameses ocorre com a frequência de um para 200.000 partos. Por alguma razão, é mais comum o de meninas. São sempre gêmeos univitelinos, isto é, gerados num único óvulo e idênticos. A anomalia na divisão das células se dá de forma aleatória nas primeiras semanas de gestação. Nos casos em que os gêmeos compartilham órgãos como fígado, intestino, rins ou pulmões, a cirurgia para a separação de corpos tem maiores chances de sucesso. A separação é mais complicada quando um dos gêmeos atua como parasita do irmão, por não ter um ou mais órgãos. Neste caso, só há uma solução médica possível: sacrificar o mais fraco para tentar assegurar a sobrevivência do mais forte. O nome irmãos siameses é uma alusão aos gêmeos Chan e Eng. Eles nasceram no ano de 1811, na Tailândia, então chamada de Sião, e tiveram seu caso estudado nos EUA.
Fonte: Miséria
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