A sala de uma casa simples de quatro cômodos preparada com esmero para receber parentes e amigos em comemoração pela chegada do terceiro filho é a mesma onde a família vela o corpo do bebê morto durante complicações na hora do parto. A tragédia ocorreu no último domingo pela manhã, na maternidade da Associação Beneficente de Pajuçara, em Maracanaú, a 50 km de Fortaleza.
A história poderia ser mais uma fatalidade não fosse o motivo do óbito: a criança teve o pescoço quebrado numa manobra feita pelo médico, na tentativa de puxá-la e completar o procedimento de nascimento.
Os pais, Francisco Erinaldo Oliveira Soares e Maria do Socorro Ferreira, estão inconformados e culpam a maternidade por negligência.
Na casa, onde o corpinho é velado, um entra-e-sai de vizinhos e familiares. Todos chocados com a ocorrência. Na rede, sem condições de levantar para também guardar o filho morto, Maria do Socorro chora em silêncio, sob os cuidados carinhosos da irmã e de seus dois meninos - uma de 11 e outro de oito - que ainda não entendem o que aconteceu com o irmãozinho que esperavam com ansiedade. Socorro, conta o marido, teve uma gravidez sem problemas, com pré-natal realizado na mesma maternidade.
Como o nenê estava "sentado", de acordo com exames feitos, o obstetra indicou cesariana, marcada para hoje, terça-feira. No entanto, na madrugada de domingo passado, a mulher começou a sentir as dores do parto e foi levada para a maternidade. "Quando cheguei, informei que era para ser cesária, mas eles insistiram no parto normal. Nem vi meu filho. Depois que o retiraram de dentro de mim, saíram correndo com o corpo e não me disseram nada na hora", narra, entre lágrimas.
Erinaldo relata que ficou sem entender. "Só depois, as enfermeiras contaram sobre a morte do bebê. Elas disseram que ele nasceu já morto. Uma mentira". Não conformado, procurou saber detalhes, sem conseguir esclarecimentos do médico.
No fim da tarde do domingo, a direção da maternidade tentou convencer Erinaldo a deixar o corpo do menino para ser enterrado pela instituição. "Claro que não deixei e exigi que trouxessem o meu filho". Fato que aconteceu por volta das 17 horas. "Ele veio todo enrolado, parecia um pacotinho, seguro até com esparadrapo", diz.
A esposa, continua Erinaldo, ficou na maternidade e ele levou o bebê para casa, onde a sogra e outros parentes o esperavam. Lá, decidiu desfazer o "embrulho" e constatou que o pescoço da criança estava inchado e muito roxo. "Fiquei apavorado. Aliás, todo mundo aqui em casa ficou sem saber o que fazer e descobrimos que ele morreu devido o pescocinho quebrado".
Erinaldo afirma que ainda procurou a maternidade para explicações e foi informado de que o bebê havia morrido há pelo menos quatro dias ainda no útero da mãe. Outra mentira, garante Socorro. "Eu sentia meu filho mexer até na hora do parto. Ele não estava morto".
O diretor clínico da Associação Beneficente de Pajuçara, Dionísio Lapa, não nega que a causa da morte da menino foi o tocotraumatismo (lesão produzida no feto durante o trabalho de parto). "Houve um caso de cabeça derradeira, ou seja, o corpo saiu e a cabeça ficou por último, presa", explica.
Ele garante, no entanto, que a manobra utilizada para completar o procedimento é autorizada pelo Ministério da Saúde e utilizada nesses casos. "Não fizemos cesária porque a mãe chegou com oito centímetros de dilatação e em trabalho de parto. Daí, fazermos o parto pélvico e com a utilização da técnica de aplicação do Fórceps de Piper para a retirada do bebê".
POLÍCIA INICIA INVESTIGAÇÃO DO CASO
Os pais do bebê morto querem justiça e exigem explicações sobre o que ocorreu de fato na hora do parto. Para isso, Francisco Erinaldo registrou boletim de ocorrência na Delegacia Metropolitana de Maracanaú, no fim da tarde do último domingo. O boletim tem o número 10.017 e foi encaminhado, na tarde de ontem, para a 29ª Delegacia de Polícia (DP) de Pajuçara, que abriu inquérito e começa a investigar o caso. O delegado Deodato Fernandes está à frente das diligências.
Já foi feito o exame cadavérico pelo Instituto Médico Legal (IML), em Fortaleza. O resultado deverá sair em até 30 dias. Também será ouvida toda a equipe médica que estava de plantão na maternidade e que efetuou o trabalho de parto de Maria do Socorro.
Parentes, vizinhos e os pais da criança também serão chamados para prestar esclarecimentos. "Estou ainda sob forte impacto da perda de meu filho, mas tenho fé de que a justiça irá ser feita", afirma Erinaldo.
"O que aconteceu com o nenê tem de ser averiguado", salienta a irmã de Maria do Socorro, Alzenira Ferreira. Ela foi quem insistiu com o cunhado para retirar o lençol que embrulhava o sobrinho falecido. "Foi um susto. Notei na mesma hora que alguma coisa havia acontecido com o pescoço dele e chamei Erinaldo", conta.
A própria declaração de óbito, fornecida pela maternidade, diz que a causa da morte foi "tocotraumatismo", reconhecida pela direção da instituição. "Não temos o que esconder", diz o diretor clínico, Dionísio Lapa.
Ele assegura que o procedimento usado pelo médico responsável pelo parto foi correto. "Foi uma fatalidade. É o que podemos afirmar para esse caso. Nada mais".
A Associação Beneficente de Pajuçara, informa o diretor, é referência quando se fala em partos em Maracanaú e municípios vizinhos. "Realizamos mais de 300 partos por mês, sempre dentro de padrões médicos e estamos tranquilos com relação às apurações do fato".
Fontes: Site Miséria e DN
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terça-feira, 20 de outubro de 2009
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