segunda-feira, 12 de outubro de 2009

JOVENS ASSASSINADOS: Tráfico ordena fuzilamentos

A Secretaria da Segurança Pública tornou-se impotente diante das execuções sumárias na Capital;

<<<Imagem do crime: os jovens são os alvos preferenciais dos traficantes de drogas. Primeiro, são cooptados para servirem de "aviões". Depois, passam a consumir as drogas que deveriam ser vendidas (Foto: Miguel Portela)

O número impressiona. Do dia 1º de janeiro até ontem, nada menos, que 129 adolescentes foram assassinados em Fortaleza e nos municípios que compõem a Região Metropolitana da Capital cearense. O tráfico de drogas, conforme as autoridades policiais, tem sido o responsável pela maioria esmagadora das execuções sumárias.

As dívidas contraídas pelos usuários de crack, cocaína e maconha, são quitadas com a própria vida dos devedores. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não consegue dar um basta nesta "guerrilha" urbana silenciosa.

Um dos últimos adolescentes executados foi o estudante Carlos Kerley Marcos de Sousa, 17. Passava das 23 horas da última terça-feira (6) quando o rapaz foi atacado e morto a tiro. O crime ocorreu na Rua Lauro Vieira Chaves, em frente à Lagoa do Opaia, na Vila União.
<<<Bairros periféricos como Bom Jardim, Jangurussu, Planalto Ayrton Senna e o distrito da Pajuçara, em Maracanaú, são os recordistas nos índices de homicídios na Capital e Zona Metropolitana (Foto: Miguel Portela)
Drogas
Emocionado, o pai do garoto contou que ele estudou em "colégios bons", eram um rapaz tranquilo e sonhador, como qualquer um na sua fase de vida, mas acabou enveredando pelo caminho das drogas.

Na noite anterior, o cenário mudou. Foi na Favela da Lagoa da Zeza, no bairro Luciano Cavalcante, onde outro usuário de drogas, o adolescente Flávio Costa Viana, de apenas 13 anos de idade, foi também sumariamente eliminado, a tiro, por ordem dos traficantes da área. Para completar a crueldade, o corpo do garoto foi arrastado até as margens da Avenida Rogaciano Leite, uma das mais movimentadas de Fortaleza. Mesmo assim, os assassinos fugiram.

No fim de semana anterior, quando a Secretaria da Segurança Pública fez o registro de, nada menos, 28 homicídios na Grande Fortaleza (dobrando os índices em relação ao Carnaval, quando ocorreram 12 homicídios na RMF), outros três adolescentes também foram assassinados, supostamente, por ordem do tráfico. Eram os jovens Paulo Domingos Quintela Júnior, Samuel da Costa Alves e Luciano Santos de Souza.

Na sequência dos fuzilamentos, o jovem Állysson Azevedo de Sousa, 17, foi baleado e acabou morrendo no Instituto Doutor José Frota (IJF-Centro). O crime ocorreu na Rua Álvaro Garrido, no Jardim Iracema (zona oeste da Capital).

Somente no mês de setembro último, foram 20 adolescentes assassinados na Grande Fortaleza, quebrando recorde do mês de maior incidência de assassinatos de menores de idade. Antes, outros 16 adolescentes haviam sido mortos no mês de agosto passado.

Silêncio
Pouco a pouco, a "lei do silêncio" está sendo quebrada pelos familiares dos jovens dizimados por ordem do tráfico. Nos programas policiais da TV, os pais de rapazes e moças assassinados começam a dar depoimentos sobre o drama de terem seus filhos "roubados" pelos traficantes e, posteriormente, mortos por conta das dívidas de drogas.

Assim como o pai do garoto Carlos Kerley - executado na Vila União - outros contam o drama que sofreram até a morte dos filhos.

Nas delegacias de Polícia da Capital e Região Metropolitana de Fortaleza se avolumam os inquéritos instaurados para apurar as execuções sumárias. A maioria segue para a Justiça - depois do prazo legal - sem apontar os criminosos.  
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Marta fez um desabafo ao comentar o que levou a filha a ser morta (Foto: Natinho Rodrigues)


COMPROVAÇÃO
Execuções nos "territórios da morte"

Dos 129 assassinatos de adolescentes na Capital cearense e sua Região Metropolitana, a maioria ocorreu nos "territórios da morte", áreas onde estão concentrados os maiores índices de homicídios na Grande Fortaleza, conforme apontou o mapeamento realizado, com exclusividade, pela Editoria de Polícia do Diário do Nordeste em recente reportagem especial.

São as comunidades do São Miguel, Messejana, Palmeiras, Pajuçara, Planalto Ayrton Senna, Jangurussu, Bom Jardim, Granja Portugal e o município metropolitano de Pacajus.

Nesses "territórios", o tráfico de drogas é considerado o maior problema enfrentado pelos moradores. O comércio de drogas, com maior frequência de crack, as famílias vivem assustadas com o que pode acontecer com seus jovens.

Vítimas
Carlos Henrique Severino de Lima, 15 anos; Carlos Augusto de Abreu, 16; Romário da Silva Lopes, 14; Paulo Rodrigo da Silva Ferreira, 16; Beatriz de Oliveira Ferreira, 13; Ismael Chagas da Silva, 15; e Aliantan Carlos dos Santos, 16, são alguns dos jovens assassinados em Fortaleza este ano. Em comum nos casos acima citados o fato de que todos eram moradores de uma única comunidade: o Conjunto São Miguel, em Messejana. Exatamente o bairro onde, este ano, já são contabilizados pelas autoridades policiais 28 assassinatos contra 22 do ano passado. O aumento do número de homicídios é diretamente proporcional com o avanço da ação dos traficantes.

Ali, a Polícia tem reforçado a segurança, com operações diárias de patrulhas da 2ª Companhia do 5º BPM e o reforço de equipes do Batalhão de Polícia de Choque, o BpChoque (Canil, Cotam, CDC e Gate).

Mesmo assim, a comunidade se sente insegura diante da ação dos criminosos. Basta a Polícia sair por alguns instantes das ruas, becos e vielas do São Miguel, e, logo, os traficantes mostram a cara. Os tiroteios viraram rotina no lugar.

Segundo o major Océlio Alves, comandante da 2ª Companhia do 5º BPM (Messejana), as operações têm surtido efeito, com importantes prisões e, principalmente, a apreensão de armas e drogas.

Em uma dessas ações, a PM conseguiu apreender um adolescente com uma arma de grosso calibre. O garoto se auto intitulava de "soldado" do tráfico.

Outros bairros
No Conjunto Palmeiras, já são seis adolescentes assassinados este ano. No Jangurussu, três. No Maracanaú, nove (sendo quatro deles somente no distrito da Pajuçara).

João Paulo dos Santos de Souza, 16; Rafael Justino da Silva, 15; Vanderlan Sousa Pinto, 17; e Cícero Ximenes de Melo Filho, 15, foram os adolescentes assassinados, este ano, no Conjunto Palmeiras, na Grande Messejana. Já no bairro do Bom Jardim os mortos eram os jovens Luís Eduardo Barbosa, 13; e Marcos Antônio de Souza Amorim, 16.

Na comunidade do Jangurussu (zona sul de Fortaleza), o tráfico de drogas foi o responsável pela morte de, pelo menos três adolescentes, este ano, sendo identificados como Celiano Amaral da Silva, 17; Ednardo da Silva Paulo, 17; e Leonardo Martins Braga, 16.

VIOLÊNCIA
Garotas também são alvos dos criminosos execuções


"Perdi minha filha para o crack, perdi minha para a droga..."

O desabafo é da dona-de-casa Luíza Marta da Silva, 46, no dia seguinte à descoberta do corpo da filha, a adolescente Emanuela Maria da Silva, 17, no Mangue do Cocó, no bairro Aerolândia, na manhã de 6 de junho último.

A garota foi encontrada semi-despida e com marcas de estrangulamento. O crime não foi um fato isolado dentro das estatísticas dos homicídios, que avança na Capital cearense.

Não são apenas os garotos e rapazes que figuram nas estatísticas das execuções sumárias determinadas pelos traficantes de drogas. Entre as vítimas estão também muitas adolescentes. Muitas são arrastadas para o tráfico pelos companheiros, namorados, maridos ou amantes.

"Ela era forte, alegre, bonita, uma menina alegre. Todos gostavam dela. Depois, ficou magra, acabada e sem vida", completa a mãe, se referindo à transformação que a garota sofreu após passar a consumir crack com um companheiro.

Crimes
A exemplo do que aconteceu com a jovem Emanuela Maria da Silva, muitas outras jovens foram assassinadas, este ano, no Ceará. O número de mulheres assassinadas no Estado já chega a 97, superando os índices do ano passado. Entre as vítimas dos assassinatos estão Vanessa Pereira da Silva, 12; Laurenila dos Santos Araújo, 16; Maria da Conceição Fernandes Mota, 15; Alana Inácio da Silva, 14; Nayara Domingos de Oliveira, 16, Raquel Edna da Silva Martins; 16, Beatriz de Oliveira Ferreira, 13; e Antônia Adrianízia Sousa da Silva, 16.

Para o juiz da Vara da Infância e da Adolescência de Fortaleza, Darival Beserra Primo, os índices de crimes de mortes cujas vítimas são crianças e adolescentes, se constituem num verdadeiro massacre que ocorre silenciosamente nas ruas da Capital cearense

FERNANDO RIBEIRO EDITOR

Fonte: DN

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