* Na Mídia Nacional:"Acordes de Esperança"foi uma das reportagens especiais do Globo Rural de hoje(30/08). Vejam a matéria completa:
Crianças e adolescentes do sertão cearense brincam e aprendem em cursos mantidos por um instituto cultural criado pelo poeta Patativa do Assaré, que morreu há sete anos.
É um município de 20 mil habitantes na região sul do Ceará. Em Assaré, a 580 quilômetros de Fortaleza, viveu Antonio Gonçalves da Silva, o Patativa, um homem da terra por nascimento e poeta por vocação.
“Os filhos dizendo
'Papai to com fome'
e aquele pobre homem
a chorar como louco
olhando a família
tão magra e tão fraca
na velha barraca
de palha de coco"
Patativa do Assaré nem chegou a completar o ensino primário. Era cego de uma vista e com a outra enxergava mal. Mas nada disso o impediu de aprender a ler poesia. Ele escreveu os primeiros versos ainda aos 13 anos.
"Com essa leitura constante foi que eu pude obter um vocabulário com o qual eu posso reproduzir em verso tudo aquilo que eu vejo, que eu sinto e que eu quero", disse Patativa.
Em 1999, o Globo Rural esteve com Patativa quando o poeta do povo completou 90 anos.Ao lado da repórter Ana Dalla Pria, ele passeou pela feira de Assaré e falou do amor pelo sertão.
"Se por capricho da sorte
eu sertanejo nasci
até chegar minha morte
eu hei de viver aqui
sempre humilde e paciente
vendo do meu sol ardente
e da lua prateada
os belos encantos seus
escutando a voz de deus
no canto da passarada"
Patativa do Assaré morreu em julho de 2002 em decorrência de uma pneumonia. A antiga casa de barro onde cresceu foi reformada este ano para as comemorações do seu centenário de nascimento. Hoje, grupos de estudantes visitam o lugar.
“Cada comemoração que se faz para falar sobre o meu pai é um prazer”, falou Inês Cidrão Alencar, filha do Patativa.
Ainda em vida Patativa criou uma fundação memorial, para preservar a cultura popular. No acervo estão a obra completa do poeta, objetos pessoais, títulos que ele recebeu e fotos.
“Ele falava que o memorial não era dele e sim das pessoas de Assaré para ajudar na divulgação da cultura”, lembrou Isabel Cristina da Silva, neta de Patativa.
Entre os vários projetos desenvolvidos pela fundação está "O canto do Patativa", que este ano ganhou o apoio do Criança Esperança.
Essa é uma iniciativa da Rede Globo em parceria com a Unesco, órgão das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura.
Para fazer parte do instituto é preciso ser matriculado em uma escola da rede pública. Os mais velhos participam de oficinas e os mais novos se divertem na brinquedoteca e ouvindo histórias com ajuda de poesia e teatro de bonecos.
Tem oficina de música popular e erudita. O instituto conseguiu criar uma banda marcial sinfônica com 25 integrantes. E pensar que há menos de seis meses essas crianças não tinham nenhuma familiaridade com a música.
“Há cinco meses eu não sabia tocar nenhum instrumento. Agora eu sei baixo e bateria”, disse o aluno.
Vale tudo para conseguir uma vaga. O estudante Paulo Rair, de 13 anos, queria mesmo era tocar trumpete, mas não perdeu a oportunidade quando precisavam de alguém na tuba. O menino encarou o desafio. "Eu achei difícil, mas depois fui me acostumando até pegar o ritmo", disse.
Quem já é veterano recebe uma nova função: vira professor dos músicos mais novos.
“Foi um pouco difícil porque a gente pega a galera sem nenhum conhecimento musical. A gente começou a passar as noções. Hoje, todo mundo tocando certinho e todo mundo tocando alinhado. Show de bola”, avaliou o instrutor Laércio Oliveira.
Quatrocentas crianças e adolescentes de Assaré estão inscritas nas oficinas. Há muitas outras na fila de espera.
“Era um sonho de a gente socializar através da arte para atingir uma cidadania. Hoje estamos no projeto de dez oficinas e já com a perceptiva de mais duas”, contou Maria Evandete de Almeida, coordenadora do instituto.
"Meu verso rasteiro
singelo e sem graça
não entra na praça
no rico salão
meu verso só entra
no campo e na roça
na pobre palhoça
da terra e sertão"
Fonte: Globo Rural
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