quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Tamiflu não é eficaz se o diagnóstico for tardio

O remédio deve ser ministrado em, no máximo, 72 horas após o aparecimento dos primeiros sintomas.

O universitário F.M.C. não viajou nas férias de julho, nem teve contato com ninguém de fora ou com pessoas que viajaram, mas pode ser um caso típico de diagnóstico tardio da gripe suína. Os primeiros sintomas de febre alta e fortes dores musculares apareceram há dez dias. Ele achou que era uma gripe comum, mas como a febre prolongou-se por uma semana, sem ceder, procurou um médico de um posto de saúde.

Segundo relatos da família, que prefere ficar no anonimato, o médico do posto disse que não tinha como fazer o diagnóstico e recomendou que ele fosse ao Hospital São José para fazer o teste e saber se tinha gripe suína. O resultado ainda não saiu, mas hoje ele está sem sintomas e já voltou a dirigir.

No caso de outra jovem, de 22 anos, o resultado positivo da doença saiu tardiamente, só na última terça-feira, após uma semana do caso ser tratado como pneumonia. Tanto ela quanto o universitário, durante o período em que estiveram doentes, não tomaram o Tamiflu.

Apesar de desconhecer os dois casos, o infectologista do Hospital das Clínicas, Ivo Castelo Branco, disse que o medicamento para ser eficaz contra a gripe suína deve ser ministrado em 48 horas, no máximo, até 72 horas. “O problema é que nos primeiros dias os sintomas da gripe são pequenos e as pessoas não procuram o posto ou o médico do plano de saúde nesse período”, diz o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O tratamento tardio pode ser explicado pelo período que a doença leva até mostrar os sinais de agravamento. “O tempo para um paciente que está com sintoma ficar (em estado) grave não é 48 horas, geralmente é no quarto dia. Então, o remédio já não tem mais efeito”, diz Ivo Castelo Branco.

Os casos de diagnóstico tardio, na visão do infectologista do Hospital das Clínicas, devem receber um tratamento de suporte no hospital, com internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), se for necessária, para evitar as mortes. “Essa gripe (Influenza A) está matando igual a gripe comum, a diferença é que está matando jovens e mulheres grávidas”, observa o médico.

O infectologista faz um esclarecimento em relação às grávidas. Segundo ele, a gravidez não baixa a imunidade, como foi divulgado por alguns veículos da mídia televisiva. Na verdade, “a imunidade muda e os agentes infecciosos se aproveitam disso, daí porque os casos de gripe suína em gestantes podem ser mais graves do que em mulheres que não estão grávidas”, completa.

A decisão da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) de disponibilizar o Tamiflu para os hospitais públicos e privados vai dar autonomia ao especialista para também antecipar o começo do uso do Tamiflu para antes das primeiras 48 horas, diz Ivo Castelo Branco. Para o infectologista, as pessoas precisam tomar a vacina antes da próxima quadra chuvosa para se prevenirem do vírus H1N1 em 2010. “No caso do Ceará, as chuvas começam no fim de dezembro, mas o governo federal deve ter a vacina só em abril”, conclui o infectologista.

COLETA DE MATERIAL

Sesa exige cadastro de todos os médicos.

A partir da próxima semana, os hospitais públicos e privados de Fortaleza poderão receber kits para a realização da coleta de material para os testes de gripe suína em pacientes. “O material coletado será enviado ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), que se encarrega de remeter para o Laboratório Evandro Chagas, em Belém”, afirmou o presidente do Comitê Estadual de Prevenção e Controle da Influenza A, Manoel Fonseca.

Antes de iniciar a distribuição dos meios de cultura para o teste do vírus H1N1, Fonseca disse que os hospitais terão que fazer o credenciamento junto ao órgão e agendar um treinamento com os técnicos do Lacen para aprenderem a realizar o procedimento padrão da coleta no paciente.

A partir do credenciamento, Manoel Fonseca disse que, os hospitais públicos e privados vão passar a atender e resolver a situação dos pacientes que chegarem com os sintomas da gripe suína. “Se for o caso, prescrever o medicamento Tamiflu e internar”, enfatizou.

Ontem pela manhã, o presidente do Comitê Estadual de Prevenção e Controle da Influenza A se reuniu com infectologistas da rede hospitalar pública e particular para debater a descentralização no atendimentos dos pacientes e do uso do medicamento Tamiflu. Cada hospital terá que cadastrar na Sesa o nome do médico “prescritor” do Tamiflu.

Somente o profissional cadastrado poderá assinar o formulário de solicitação do medicamento. “Os hospitais públicos poderão cadastrar até três médicos e os representantes da rede privada ficaram de estudar esse mecanismo junto à direção dos hospitais”, diz.

No caso dos plantonistas que atenderem pacientes com sintomas da nova gripe, “o médico terá que entrar em contato com o prescritor para que o Tamiflu seja liberado”, esclarece Manoel Fonseca.

Apesar da descentralização, a Sesa não abre mão do Hospital São José Controlar a entrega do Tamiflu aos pacientes. “A quantidade do remédio é limitada no Nordeste”, justifica.

Fonte: Suelem Caminha (Repórter) - DN

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